Falámos com o futurista da Deloitte a nível global, no âmbito do lançamento do estudo anual da consultora no qual identifica as seis principais tendências tech para futuro.
Desafiado a pronunciar-se sobre o tipo de invenções que possam surgir na próxima década, Mike Bechtel, o futurista da Deloitte a nível global, acredita que "assistiremos ao surgimento da Inteligência Artificial (IA) afetiva", isto é, "máquinas capazes de ler e imitar a inteligência emocional, máquinas com personalidade".
Em conversa com o Dinheiro Vivo, no âmbito do lançamento do estudo anual da consultora sobre as macrotendências tecnológicas, Mike Bechtel admite que, nos próximo dez anos, "podemos esperar ter experiências ambientais, moderadas por assistentes digitais que nos monitorizam para antecipar e atender proativamente às nossas solicitações. Mais tarde, as interfaces neurais permitirão uma ligação direta entre os nossos pensamentos e uma resposta digital. A IA já pode tomar decisões baseadas em dados em tempo real e gerar poesia, ensaios, arte, música e vídeos".
O futurista considera, também, que "a computação está a caminhar em direção à abundância: melhor, mais rápida, mais barata e mais forte".
Por outro lado, acredita que, "na próxima década, redes descentralizadas, edge computing e conectividade avançada impulsionarão a web espacial, onde o conteúdo digital será perfeitamente integrado com os espaços físicos".
Mike Bechtel defende que o melhor que temos a fazer é usar as máquinas: "Usá-las para escrever e-mails, pesquisar um tópico, fazer publicações em redes sociais, construir um site ou o que o teu trabalho exija. Quando começares a usar essas ferramentas, verás que não são tão capazes quanto um humano. Na verdade, nunca tiveram a intenção de o ser. Muitas vezes, são a base de um projeto, acelerando o trabalho numa fase inicial. O uso de IA pode realmente tornar-te mais produtivo e insubstituível. Ouvimos muito isto hoje: não serás substituído por IA, mas podes ser substituído por um humano a usar IA."
Por esse motivo, recomenda que as empresas estejam atentas a novos desenvolvimentos na área da IA. "Grandes modelos de linguagem podem ser o burburinho agora, mas a IA pode mudar fundamentalmente quando a IA afetiva permitir que as máquinas entendam inteligência emocional."
Revolução da IA
E a "revolução" da IA é precisamente uma das seis tendências identificadas no estudo da Deloitte, pela necessidade de aumentar a confiança dos humanos nessa ferramenta. Para isso, o estudo aponta a importância de tornar os algoritmos mais transparentes - como é que as decisões são tomadas, quais os dados em que são baseadas e que objetivos têm serão, sublinham os autores, questões fundamentais.
Do físico para o digital
A separação entre o virtual e a realidade física, tangível, deixou de existir. O metaverso está a potenciar "a criação de novos modelos de negócio" à boleia da evolução de tecnologias como a realidade virtual e a realidade aumentada. A consultora aponta a necessidade de as empresas criarem uma estratégia para abraçar este novo mercado, seja com novos produtos e serviços, seja com a otimização de processos.
"A simulação empresarial é algo que vai acontecer", antecipa o consultor Bruno Silva Batista. Já é hoje uma realidade a construção digital de fábricas totalmente funcionais para testar equipamentos, organização dos processos produtivos, avaliar impactos ambientais e antecipar problemas. O futuro a curto-prazo reserva, porém, novas formas de interação que prometem ser transformadoras. "Pensamento sensorial ou controlo baseado no pensamento são áreas que se vão desenvolver nos próximos dois, três anos", acredita.
Desafio do multicloud
O crescimento da utilização da cloud levou a que 85% das empresas dependam de, pelo menos, duas ou mais plataformas, enquanto 25% usam cinco ou mais. "Isto leva a duplicação de serviços, tanto a nível de custo como de configuração", explica Bruno Silva Batista, que refere o surgimento de soluções que permitam às organizações gerir todas as plataformas num único local. Isto permitirá reduzir equipas, poupar recursos e aumentar a eficiência.
Talento e modernização
As três últimas tendências do Deloitte Tech Trends 2023 prendem-se com a organização dos negócios. A crescente flexibilidade exigida às empresas pelos colaboradores é essencial para criar e reter talento num cenário de escassez de competências disponíveis - sem adaptação, os gestores não serão capazes de manter equipas. Por outro lado, o estudo olha para a descentralização e a monetização dos ativos digitais como algo a que as organizações devem estar atentas, em especial com o aumento do potencial do blockchain e da transição para a Web3.
A modernização dos sistemas core é algo que, com soluções de IA e machine learning, torna-se possível, permitindo integrá-los com tecnologias emergentes. Esta estratégia possibilita um processo de transformação digital mais célere, menos dispendioso e mais eficaz.
No fundo, a adoção das tecnologias é "crucial". "Aquelas que não acompanharem essas tendências correm o risco de ficar para trás", conclui Gonçalo Santos, partner da Deloitte.
Fonte: https://www.dinheirovivo.pt/economia/na-proxima-decada-teremos-maquinas-com-personalidade-16585388.html